19 de abr. de 2011

Meditaçao...

Cuidadosa desatou os sapatos em silêncio, tirou-os devagar, como se fosse a última vez que o fazia.

Pé ante pé saboreou o frio húmido das folhas mortas caídas no chão durante o Inverno.
Era Primavera, as árvores já exibiam folhagem verde, cheias de vida.
O perfume das flores deteve-a por momentos, penetrou-lhe as narinas, cansadas do fumo da cidade.
Tomou uma grande golfada de ar e continuou.
Os raios de sol rompiam a densa folhagem em todas as direções, avivavam-lhe o brilho dos cabelos brancos, que já se faziam notar. Os traços que aletoriamente lhe vincavam o rosto são histórias já vividas, dores sofridas, alegrias contidas, tristezas partilhadas.
Alheia a tudo continuava.
Olhos fixos, não se lhes percebe um só sentimento.
Não, já não era como outrora, não exteriorizava. Aprendera a amarga lição, guardar para si!
Sabia de antemão que estavam habituados a vê-la como ouvinte, não como narradora... para quê desiludi-los? Nunca tivera essa pretensão.
Na verdade já pouco interessava.
Ela própria sentia-se desiludida, só ainda não sabia se consigo se com os outros. Esta imensa confusão consumia-a. Preferia não pensar nisso por enquanto.
Continuava a caminhar, as ervas altas desgrenhadas atrasavam-lhe os passos pouco decididos, como se a quisessem segurar ali, onde não podia nem queria ficar.
Aquele ponto minúsculo de luz atraía-a.
Exausta quase desistira, conseguiu soltar algumas daquelas amarras e continuou.
O ponto minúsculo permanecia distante, mas a sua rara beleza não lhe deixava dúvidas. Era por ali o caminho. Para construir a tão desejada paz interior, tinha de  alcançar.
Meio entorpecida, olhou para tudo o que ficou para trás, para o caminho já percorrido. Não viu mais que uma densa névoa onde as formas mal se destrinçavam, não mais pertencia ali.
Voltou-se para a frente, lá estava ele o ponto minúsculo como que a chama-la, sentiu a luz que dele emanava.


Agora, confiante continuou a caminhar.

 
http://olhardentro.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário