Só o ter flores pela vista fora nas áreas largas dos jardins exatos
Basta para podermos achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas as mãos, brincando,
pra que nos não tome do pulso, e nos arraste.
E vivamos assim,
Buscando o mínimo de dor ou gozo, bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidos como água em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas,as rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas carícias dos instantes volúveis.
Pouco tão pouco pesará nos braços com que, exilados das supernas luzes,
Escolherrnos do que fomos o melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas, formos, vultos solenes de repente antigos,
E cada vez mais sombras, ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno rio, e os nove abraços do horror estígio,
E o regaço insaciável da pátria de Plutão.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Nenhum comentário:
Postar um comentário