19 de ago. de 2010

POEMA DO DESENCANTO




Eu tentei escrever o poema com lágrimas!
Transparentes os versos não mostraram
A sangria que fazia no coração
O punhal do desencanto.

Então eu quis névoa que ocultasse o pranto
Sobrepondo-se à lucidez e à razão,
No vendaval de inclinação afetiva.

Entendo que os dias, meses, anos...o tempo,
Enquanto sonho, passa por nosso viver,
Extraindo os cristais excedentes de arestas,
Assim como o vento faz nas escarpas,
Esculpindo a adaptação na doação
De ambos os lados.

Desilusões fazem parte da existência.
Sabemos...
E que elas também são paixões.
Que quando acontecem são algozes,
E, como tal, mutilam a dignidade pessoal.

A vida como viagem de duas pontas,
Mesmo sem graça, vai continuar à revelia,
Hora após hora, dia após dia...
Sempre foi e continuará sendo assim,
E, por fim, os doloridos da gente
Fingirão que não doem tanto e darão jeito
De juntar os cacos depois.

O que doeu fundo e abriu ferida no peito,
Não foi deixar de ter as virtudes
Que os amantes têm no início do romance,
À quem quer saciar carência concupiscente,
E que, sem se importar com os estragos,
Atira-se, inconseqüente, no amor louco.

Tampouco
Foi o ruir do castelo de ideais sonhados,
Ao descobrir o quanto de efêmero...
De transitório...
Tinha o que antes parecia ser para sempre.

O que fez sofrer profundamente,
Foi perceber, no gotejar lento do sangramento,
O endurecer da alma para outros devaneios,
Para novas esperanças,
Pois, a cada verso, ela morreu um pouco

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